Normalmente, eu não sou de postar coisas relacionadas à História da Arte, tendo reservado a isso as primeiras postagens do começo de 2009, nas quais falei sobre o Impressionismo e o Pós-Impressionismo.
Enquanto estudava os diversos períodos de História da Arte no mundo (de uma maneira padrão, já que sabemos que a História de qualquer coisa não funciona de forma localizada e linear), dei-me conta do quanto as coisas iam evoluindo de dos vai-e-vens dos conceitos de Arte e do papel do artista na sociedade.
Confesso que até o final da Idade Média era fácil estudar a História da Arte, já que tínhamos somente que entender como eram feitos os trabalhos analisando tão somente o ponto de vista da religião, cultos das épocas distintas.
No entanto, quanto mais avançamos no tempo, mais encontramos nomes destacáveis. E mais difícil é aprender a respeito não somente do momento histórico e sua arte característica, mas dos próprios artistas que, dada a sua influência, revolucionaram de maneira muito efetiva o ramo das Artes Visuais.
Escolhi um artista do qual não sou particularmente fã, mas penso ser uma injustiça não comentar a seu respeito, pelo que tenho lido sobre ele. Estou falando tão somente do grande gênio renascentista Leonardo Da Vinci.
Leonardo Da Vinci (1452-1519), o mais velho desses famosos mestres, nasceu numa aldeia toscana. Foi aprendiz numa importante oficina em Florença, a do pintor e escultor Andrea Verrocchio (1435-88).
(...) Foi introduzido nos segredos técnicos do trabalho de fundição e outras tarefas metalúrgicas, aprendeu a preparar quadros e estátuas cuidadosamente, fazendo estudos de nus e de modelos vestidos. Aprendeu a estudar plantas e animais curiosos para incluir em seus quadros e recebeu fundamentos básicos sobre a óptica da perspectiva e o uso de cores. No caso de qualquer outro rapaz talentoso, esse treinamento teria sido o suficiente para fazer dele um respeitável artista, e muitos bons pintores e escultores saíram, de fato, da próspera oficina de Verrocchio. Mas Leonardo era mais do que um jovem talentoso. Era um gênio cujo intelecto poderoso será eternamente objeto de assombo e admiração para os mortais comuns. Sabemos alguma coisa sobre a amplitude e produtividade do espírito de Leonardo porque seus alunos e admiradores preservaram cuidadosamente seus esboços e cadernos de apontamentos, milhares de páginas cobertas de escritos e desenhos, com exertos de livros que Leonardo leu e rascunhos para obras que pretendia escrever. Quanto mais se estudam esses papéis, menos se pode entender como um ser humano foi capaz de se destacar de forma tão profunda em todos esses diferentes campos de pesquisa e dar tão importantes contribuições para quase todos eles. Talvez uma das razões resida no fato de Leonardo ser um artista florentino, e não um erudito de formação acadêmica. Considerava ele que a função do artista era explorar o mundo visível, tal como seus predecessores tinham feito, só que de maneira mais abrangente e com maior intensidade e precisão. Não lhe interessavam os conhecimentos livrescos dos homens de saber. Tal como Shakespeare, ele provavelmente tinha "pouco latim e ainda menos grego".
(...)
Foi um dos primeiros a aprofundar os mistérios do crescimento da criança no ventre materno; investigou as leis das ondas e correntes; passou anos observando e analisando o vôo de insetos e pássaros, o que iria ajudá-lo a inventar uma máquina voadora que um dia, ele estava certo disso, se tornaria uma realidade. As formas de pedras e nuvens, o efeito da atmosfera sobre a cor de objetos distantes, as leis que governam o crescimento de árvores e plantas, a harmonia de sons, tudo isso era objeto de sua incessante pesquisa e seria (...) Em tempo de paz, divertia-os com brinquedos mecânicos de sua própria invenção e com o projeto de novos efeitos para representações teatrais e cortejos pomposos. Leonardo era admirado como um grande artista e requestado como esplêndido músico, mas, apesar de tudo isso, poucas pessoas poderiam ter feito uma pálida ideia da importância de suas concepções ou da vastidão de seus conhecimentos.
(...)
Seja como for, sabemos que Leonardo deixou por executar muitas vezes as obras que lhe encomendavam. Começava uma pintura e deixava-a por acabar, apesar das urgentes solicitações do cliente.Além disso, insistia obviamente em que só a ele cabia decidir quando uma obra sua estava terminada e recusava-se a entregá-la a menos que se considerasse satisfeito com ela. Não surpreende, portanto, que poucas obras de Leonardo tenham sido concluídas, e que seus contemporâneos lamentassem o modo como esse extraordinário gênio parecia desperdiçar seu tempo, deslocando-se incansavelmente de Florença para Milão, de Milão para Florença, e a serviço do notório aventureiro César Bórgia, depois Roma e, finalmente, a corte do Rei Francisco I de França, onde morreu em 1519, mais admirado do que compreendido.
Referências
GOMBRICH, Ernst Hans Josef. A História da Arte. 16ª edição. LTC. Rio de Janeiro, 2009.