Esta é uma reportagem que eu tirei do site do MoMA, na qual fala a respeito de uma exposição, em 2003, que reuniu obras do próprio artista Matisse. A reportagem é uma tradução para o português que trago na íntegra, e quem quiser ver o link do site oficial, em inglês, acessa aqui.
"24 de agosto de 2010 - Por Lloyd Schwartz
Em 2003, o Museu de Arte Moderna realizou uma importante mostra comparando Pablo Picasso e Henri Matisse, talvez os dois maiores pintores europeus do século XX. Eles eram amigos e rivais; influenciaram e ainda colecionaram os trabalhos um do outro.
Agora uma maravilhosa nova mostra no MoMA - 'Matisse: Invenção Radical, 1913-1917'- sugere a ideia de que Matisse era muito diferente de Picasso. O mestre espanhol, praticamente sinônimo de Arte Moderna, tinha um irrefreável senso de direção. Ele procurava um estilo - o Período Azul, o Período Rosa, Cubismo - e quando ele ia a fundo em algum deles, mudava para outro.
Mas num período de quatro anos, Matisse investiga que o desenvolvimento do artista emerge de uma forma muito menos linear, não dividida em simples capítulos. Matisse parecia tentar classificar diferentes coisas ao mesmo tempo, e assim ele produziu algumas de suas maiores pinturas. Mas deve ser difícil para qualquer um que não é um historiador de arte estabelecer o trabalho em uma ordem cronológica.
Artistas modernos estavam tentando encontrar novas formas de olhar o mundo, fugindo de imagens descritivas nas tradicionais três dimensões - descobrindo os mais vivos e simples - e também mais complexos - jeitos de transmitir essas imagens. Ainda antes do período central sublinhado nesta exibição, nós vemos Matisse fazendo experimentos com dimensões, um tipo de processo de achatamento no qual as imagens se tornam menos literais e mais simbólicas. Uma de suas mais estranhas e mais originais pinturas, 'Banhistas com Tartaruga', é de 1908, logo um ano depois da pintura cubista de Picasso Demoiselles d'Avignon, na qual os corpos de cinco mulheres foram transformados de seres humanos arredondados para figuras contornadas e fragmentadas com máscaras africanas no lugar dos rostos. As figuras de Matisse ainda são mais misteriosas: três nus simplificados, quase como desenhos de criança. Ele não oferece explicações sobre por que eles estão alimentando uma tartaruga, ou por que uma delas tem seus dedos colocados na boca. Como nós podemos dizer se este é um casual incidente ou um ritual profundo? Isso importa? Manchas horizontais de azul abstrato representam um pano de fundo de água e céu. É como Cezanne, mas mais radical. A Arte Moderna está só começando.
Durante a mostra, nós vemos Matisse sendo desafiado pelos mesmos problemas que os seus contemporâneos mais célebres enfrentaram. Mas Matisse parecia estar se movendo para trás e para os lados, bem como para frente. E através da tecnologia do raio-X, os curadores estavam aptos para traçar o próprio processo de Matisse. Nós agora sabemos que ele estava deliberadamente modificando seus espectros de cores deslumbrantes, ou mudando a posição de suas figuras. E em muitos lugares, em vez de esconder algumas de suas mudanças, ele na verdade nos deixa observá-las - como se as próprias figuras estivessem se movimentando em torno da superfície das telas.
O clímax da mostra inclui duas de suas mais extraordinárias pinturas, ambas combinadas num extremo de abstração com legíveis imagens figurativas. As duas são gigantes, mas one delas é monumental e hierática, e a outra dolorosamente triste. Uma é 2,4 m por 3,6 m 'Banhistas por um rio', do Instituto de Artes de Chicago, onde esta mostra se originou. Matisse 'retrabalhou' esta pintura durante todo o período coberto pela exibição, mudando de uma cena de praia de tons pastel leves para um exótico Eden, um gigantesco ícone com quatro semideusas delineadas em um painel vertical, com uma sinistra - ou seria benigna - cobra branca surgindo com a cabeça do fundo da tela. Nós sentimos algo intensamente simbólico, mas Matisse não sentiu a necessidade de explicar a iconografia.
A outra peça é da própria lição de piano do MoMA, uma tela de 2,4 m de altura que descreve filho mais novo de Matisse nas teclas, com sua mãe ou professora de piano num banco mantendo um olhar sombrio. Eu cresci em Nova Iorque, e esta foi uma das minhas pinturas preferidas desde que eu era grandinho o bastante para ir a museus. A Lição de Piano também tem mistérios, nesta combinação de geometria fria e intimidade tocante. A sombra no rosto do menino repete o metrônomo triangular no piano. E um triangulo verde maior cruza a sala. Trata-se de de um feixe inquietante de luz? É como se o tempo estendesse sua própria sombra sobre tudo, incluindo a juventude e a própria arte.
Essas duas ótimas pinturas, originadas de um período de crescimento artístico, que emergiu da complicada busca de Matisse por direção, uma busca que deu muitas voltas antes do artista encontrar a sua direção. Ou estas voltas eram a verdadeira direção de Matisse?"
quarta-feira, agosto 25, 2010
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