Como tinha que fazer um trabalho de Psicologia da Educação baseado no processo criativo segundo o psicanalista argentino Pichon-Rivière, vi aí a oportunidade perfeita de homenagear um artista gaúcho de grande renome, e falar mais a respeito de como é intrigante o fato de alguém que se encontra no fundo do poço (conforme contarei a seguir) conseguir realizar uma obra de arte com adjetivos inomináveis de qualidade.
O Artista
Agora, muitos aqui que me leem devem estar se perguntando quem foi Edgar Koetz. Pois lhes informo que este gaúcho nascido em Porto Alegre foi um desenhista, gravador, artista gráfico, ilustrador e pintor. Nossa, mas quantas qualidades em uma pessoa só! E isso ainda não é nada!
Edgar começou sua carreira na Editora Globo, tendo reconhecido na litografia a sua arte com Ernest Zeuner. Fundou, com outros artistas, em 1938, a Associação de Artes Plásticas Francisco Lisboa e integrou o Clube da Gravura, durante os anos 1950, juntamente com Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves e Blênio Bianchetti.
Mudou-se para Buenos Aires em 1945, onde realizou vários trabalhos, ganhando inclusive prêmios como o Prêmio da Câmara Argentina do Livro, isso durante os cinco anos que permanece em solo argentino.
Em 1952, dois anos após integrar o Clube da Gravura, Koetz se instala em São Paulo, onde assumiu o cargo de coordenador gráfico da Comissão Estadual de Literatura do Governo de São Paulo. Leciona no MASP, e ganha dois prêmios no concurso para os selos comemorativos do 4º centenário da cidade de São Paulo.
Durante os anos 1960, quando retorna a Porto Alegre, produz uma série de pinturas a guache entituladas “Poesias dos Bairros”, que eram uma espécie de retração de registros de seus passeios pela cidade. Era um trabalho de caráter urbano, mais uma visão das calçadas e praças no início do século XX.
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--> A Obra “Alienados”
Em 1964, com a explosão do Golpe Militar, Koetz foi internado no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, após sofrer de depressão por causa da repressão da Ditadura Militar. Os direitos foram banidos, a censura estava lá para impedir a liberdade de pensamento e de expressão, e isso foi um grande baque para Edgar.
Foi então que lhe deu um estalo, e resolveu executar uma série de pinturas a nanquim dos pacientes do Hospital Psiquiátrico onde internaram-no. Tendo sido produzidos 24 desenhos dos pacientes, Edgar faz ali uma obra e ao mesmo tempo um protesto. Durante a Ditadura Militar, o país inteiro estava passando por um período de alienação, devido a censura e a forte repressão. Koetz encontrou ali uma forma de dizer ironicamente que aquelas pessoas eram as consideradas loucas, sendo que, por interesse daquela sociedade, elas eram ditas como tal. Mas que na verdade, não dá totalmente para diferenciar a loucura da sanidade.
Seu processo criativo foi feito de maneira espontânea, sem rascunhos, borracha ou qualquer tipo de esboço anterior. Eram feitos diretamente sobre o papel, com o pincel embebido na nanquim, o que deixou o seu trabalho com uma aparência mais espontânea, com traços simples. Fora que o desenho tinha um tristeza implícita, expressada por ele no rosto de cada um dos 24 pacientes que retratou. Uma curiosidade é que os 24 desenhos de Edgar Koetz foram em exposição no MARGS em 2004, sendo que alguns deles inclusive fazem até parte do acervo do próprio MARGS.
O documentário da RBS encontra-se neste link, para quem não viu e tiver curiosidade de ver. Inclusive até dispensa que eu mostre imagens, porque o próprio documentário faz questão de mostrar bem os trabalhos de Koetz.
Leituras complementares (a quem quiser ler algo fora deste blog):
O depoimento de Celso Koetz, filho de Edgar
Um site com apanhados de textos de Pichon-Rivière, a quem quiser se fundamentar
Referências:
Site do MAC
Site do Margs
2 comentários:
Aqui quem fala is \Felipe Contri (su Namorado)
Eu auxilie na bsuca de material deste trabalho diretamente do MARGS...
Otimo trabalho, amo voce!
Nunca deixei de valorizar o trabalho que tu teve ao ir lá no Margs e pegar materiais da vida do Koetz.
Veja bem: AJUDANDO, já que quem fez fui eu (só para tirar a dúvida de alguns "espertinhos" que ainda acham que eu assumo autorias que não são minhas)! hehehehehe! Acho que sem a tua ajuda não conseguiria um material bom pra montar esse trabalho.
Ficou muito bom o enfoque no processo criativo, com os livros do Pichon...
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