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domingo, março 28, 2010

A arquitetura portuguesa em Rio Grande - RS

Mais uma vez puxando a sardinha para minha brasa, gostaria aqui de dedicar um post exclusivamente a respeito da arte portuguesa de minha cidade, Rio Grande.


 Um pouco de História de Rio Grande e do Rio Grande do Sul





Para quem não sabe, Rio Grande é a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul fundada em 1737 pelo Brigadeiro José da Silva Paes, tendo sido elevada à vila 10 anos mais tarde. Apesar disso, Rio Grande passou pelas mãos dos espanhóis durante 13 anos (1763-1776).

A fundação da cidade é anterior à época da troca de Sacramento (até então dos portugueses) pelas Missões Jesuíticas (espanholas), firmada pelo tratado de Madri em 1750. O Estado passava por profundas transformações devido ao fim da União Ibérica, já que durante muito tempo Portugal e Espanha tiveram um só rei. Sacramento fora abandonada em 1736, já que estivera sitiada pelo governador de Buenos Aires, que tomara Montevidéu também.

Sendo assim, vieram para Rio Grande para "garantir" terreno aqui. Rio Grande era uma cidade que atraía os olhares de potências europeias como a Holanda (que a tinha em seus mapas desde 1720), por causa da sua ligação com o mar através de seu porto, o que facilitava o comércio. "A escolha do lugar, com o estabelecimento de estâncias de gado, permitiu apoiar as comunicações por terra entre Laguna e Colônia do Sacramento. Assim, foi fundada a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul de colonização portuguesa - uma vez que no espaço que hoje compreende o estado do Rio Grande do Sul já existiam os Sete Povos das Missões, de domínio espanhol, sendo que algumas cidades oriundas dessa formação jesuíta existem até hoje." (Wikipedia)

Anos mais tarde, em 1763, Rio Grande viria a sofrer com a invasão de espanhóis, que levaria a imigração de açorianos a ir para Viamão e Porto Alegre (o que explica e muito o fato da cidade ter crescido mais, já que em 1773 a cidade mudou o nome de "Porto dos Casais" para Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre). Essa imigração já vinha ocorrendo desde 1752, mas com a invasão dos espanhóis, ela acabou se intensificando nessa região.

Os espanhóis fizeram literalmente "gato e sapato" de Rio Grande, tendo destruído muitos de seus prédios, saqueado, tudo antes dos portugueses reconquistarem Rio Grande em 1776. Mas, já era tarde demais para recuperar o seu posto como capital do RS, já que Porto Alegre já era a capital do RS já faziam 3 anos.

Mas afinal... Quem são os açorianos?

Para quem não sabe, os Açores são um arquipélago afastado de Portugal, mas que faz parte de Portugal. Se alguém que me ler aqui e for português, por favor, me corrige se eu estou dando alguma informação errada. Mas pelas fontes que li, é isso mesmo.
Os açorianos são formados por povos de cristãos novos (judeus convertidos por questões de perseguição) e flamengos que se estabeleceram naquela região.
Os açorianos começaram a sofrer com a superpopulação em meados do século XVII, tendo sido transferidos para cá por decisão da coroa portuguesa, que conseguiria resolver dois problemas de uma vez só. Ao mesmo tempo que a coroa portuguesa queria resolver esse problema da superpopulação, queria gente para ocupar as terras ao sul do Brasil, para evitar dominação espanhola.
Lembrando que isso tudo foi durante a época em que Portugal e Espanha brigavam pela supremacia cada qual de seu país no Brasil, na época da colonização.

Crítica de uma rio-grandina

Rio Grande é caracterizada pelo seu grande número de igrejas, um museu de arte sacra, e muitos prédios antigos. Mas gostaria aqui de fazer uma espécie de crítica, porque os prédios antigos em nossa cidade são muito mal preservados, principalmente aqueles que se encontram na rua Bacelar, que é conhecida como Calçadão. Alguns comerciantes ou grandes lojas não tem o mínimo de sensibilidade de preservarem aquele que é o patrimônio histórico de nossa região, colocando pôsteres e imagens grandes e descontextualizadas à frente das fachadas de gesso dos prédios antigos. (Fotos ao final do Post).

Atualmente, alguns foram reconstruídos para dar lugar a colégios (como o Kyrius na Aquidaban) ou a festas (como muitos na Av. Presidente Vargas ou do lado do próprio Kyrius na Aquidaban).

O mais lamentável é que Rio Grande tem muitos museus, como o centro municipal de cultura (que também abre espaço para outras manifestações de natureza cultural, como a música e a dança), o sobrado dos azulejos (que possui toda uma arquitetura tipicamente portuguesa), só que estes são raramente visitados pela população local, a exceção da nata intelectual da cidade.

Igrejas, museus, e prédios no geral

Aqui, vou me deter somente a analisar os prédios de nossa cidade.

A nossa cidade tem uma influência muito forte vinda por parte do Catolicismo, apesar de nossa cidade conter das mais diversas etnias. Portanto podemos dizer que o patrimônio artístic0-cultural envolvendo arte sacra é mais ou menos 70% de toda a arte contida em Rio Grande.




Temos as mais diversas igrejas em Rio Grande, merecendo destaque a Igreja Anglicana El Salvador (na Vitorino), a Igreja do Carmo (um forte ponto turístico), a Igreja do Bonfim (na Duque de Caxias), e é claro que a mais antiga igreja (ou capela...) do Rio Grande do Sul, que é a Matriz de São Pedro. Isso fora as tantas capelas que temos espalhadas pela nossa cidade, e outras igrejas também igualmente ricas em detalhes de arte. Abaixo, a igreja anglicana El Salvador, e arte em azulejo retratando Jesus Cristo, bem na entrada da Igreja.






É interessante até ressaltar o fato da Igreja do Carmo ter um aspecto neogótico, devido aos detalhes de sua fachada, e pelos arcos ogivais, tendo a vertical predominando sobre a horizontal. Deixando bem claro que o estilo neo-gótico esteve em alta no século XIX na Europa, lembrando sempre que o Brasil sempre exportou modelos exteriores de arte e arquitetura (incluindo aqui Rio Grande e o Rio Grande do Sul). A Igreja do Carmo é rica em detalhes não somente em seu exterior, com as suas esculturas no topo do prédio, como também em seu interior, que contém muitos vitrais, esculturas sacras, teto ornamentado. Esse final de semana pretendo acrescentar mais imagens a este post. E mostrarei exatamente aquilo que quero dizer.





Já a Matriz de São Pedro, conhecida como a igreja mais antiga do RS, tem uma arquitetura bem menos ornamentada do que a Igreja do Carmo, além de ser bem menor. Mas em aspectos históricos, é a igreja mais importante da cidade. Sua entrada foi mantida ao longo dos anos, passando por inevitáveis reformas, que sempre tentavam mantê-la como o original. Apesar de ter sido atacada pelos espanhóis, durante a ocupação espanhola em Rio Grande, ela é mantida praticamente como a original, de 1756. O altar foi roubado na retirada dos espanhóis, que foram para o sul. Resultado: o altar da Matriz de São Pedro, o original, encontra-se em uma capela do Forte Santa Teresa no Uruguai.



Neste link, a Igreja do Bonfim (a de Rio Grande, não a da Bahia!). A Igreja do Bonfim foi construída em 1840, sob o domínio da Irmandade do Nosso Senhor do Bonfim. Curioso até afirmar que nas redondezas da igreja, tinha um cemitério. Em 1968, a Irmandade passou para Paróquia do Nosso Senhor do Bonfim.

Sei que não é de Rio Grande, mas uma igreja importante pra região é a Matriz pertencente a São José do Norte.




Outros prédios que merecem destaque. A Alfândega, que é onde funciona a Receita Federal, que faz praticamente uma "fronteira" com o Porto Velho, que era o antigo porto da cidade. Ainda temos o Sobrado dos Azulejos e o Centro Municipal de Cultura.





Abaixo temos alguns exemplos da arquitetura portuguesa em Rio Grande (as fotos são de minha própria autoria). A fachada é bem típica dos prédios portugueses, cheia de ornamentações, fora a influência notável do Rococó, da Europa.





Muitos desses prédios foram reformados, mantendo o seu aspecto original. No entando, muitos deles não somente foram negligenciados como também desrespeitados por comerciantes que colocam aqueles mega-outdoors na frente de uma fachada que poderia dar um ar sofisticado ao seu estabelecimento. Mas aí já é uma opinião pessoal.





Abaixo, para encerrar, uma cena da praça Tamandaré, onde tem várias esculturas, sobretudo do escultutor acadêmico Érico Gobbi.



Referências:

Wikipedia

Página do Gaúcho

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3 comentários:

Uilher Blatz disse...

Como vai Aline! Li alguns posts do teu blog e achei muito interessante. Vou te dizer uma coisa que já percebi nesses quase 4 anos de faculdade. Da nossa turma, para mim, você é a uma das que tem o maior potencial, e não é papo furado. Alguns desenham bem outros já possuem uma boa experiência no mundo das artes mas você, tenho certeza, será uma ótima pesquisadora. Te acho muito inteligente e sem dúvida ainda vou ler os teus livros. Boa sorte guria, torço por você!

A-line disse...

Valeu, Uilher! ^^

Manuel CasaBranca disse...

olá Aline agradeço a "viagem" pela tua cidade.
Há aspectos do barroco que notavelmente semelhantes a algumas capelas aqui da minha região, Alentejo. até arrepia...
Quanto aos Açores e à colonização... depende das ilhas, lembro-te que a primeira a ser colonizada foi Santa Maria por volta de 1443/47 por alentejanos e algarvios, aqui do sul de Portugal. è curioso que quando visitei essa ilha fiquei igualmente impressionado pela arquitectura tradicional, que mesclava precisamente elementos do Alentejo e Algarve. Agora encontro no teu post esses elementos arquitectónicos deste meu Alentejo. Não será apenas coincidência, poderá ter a ver com esses emigrantes açorianos? Parece que sim!
cumprimentos
Manuel CB

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